Tudo que você queria saber sobre Triglicérides
Os primeiros estudos que ligaram os triglicérides à doença aterosclerótica coronária datam da década de 60. Durante a década de 80 eles foram desprezados, mas nos anos 90 esse dado voltou a ser considerado um dos mais importantes fatores de risco. Assim, reconhece-se hoje que tanto as alterações do colesterol quanto as dos triglicérides desempenham papel relevante no desenvolvimento da doença aterosclerótica.
As gorduras (lipídios) são substâncias essenciais à vida e têm muitas funções como fonte de energia armazenável. Elas provêm da nossa alimentação ou são fabricadas no organismo, principalmente no fígado. As duas gorduras mais importantes que circulam no sangue são o colesterol e os triglicérides. Atualmente, sabe-se que tanto o colesterol quanto os triglicérides são os fatores de risco mais importantes para a doença aterosclerótica das artérias coronárias.
1 – O que são triglicérides?
Os triglicérides são gorduras transportadas n circulação sanguínea em partículas denominadas lipoproteínas, com outros tipos de gorduras e determinadas proteínas. As lipoproteínas mais ricas em triglicérides são os quilomícrons e as VLDL (sigla em inglês que significa “lipoproteínas de densidade muito baixa”). Os quilomícrons são as lipoproteínas que contêm gorduras provenientes da alimentação (são formadas nos intestinos); as VLDL são lipoproteínas fabricadas pelo fígado. Quando as VLDL perdem a maior parte dos seus triglicerídeos, mas mantém o colesterol, formam-se as chamadas LDL (sigla em inglês que significa “lipoproteínas de densidade baixa”).
2 – Quais são as principais fontes de triglicérides?
Os triglicérides vêm da alimentação, quando consumimos alimentos que contém gorduras, e também são produzidos pelo próprio organismo. O principal local de formação é o fígado.
3 – Qual a função dos triglicérides?
Os triglicérides fornecem energia para o organismo. Isto pode ocorrer logo que são absorvidos da alimentação, após ser fabricados ou depois de ficar armazenados no tecido gorduroso por algum tempo.
4 – Qual a importância dos triglicérides na determinação de problemas de saúde?
Como já foi dito, os triglicérides fornecem energia para o organismo, portanto, são essenciais à vida. Entretanto, quando estão em níveis altos no sangue, aumentam as chances de aparecimento de outros problemas: a pancreatite aguda, quando os níveis de triglicérides são muito altos (em geral acima de 1000 mg/dL), e a aterosclerose, que atinge a maioria das artérias do organismo. No caso das artérias coronárias, que alimentam o coração com sangue oxigenado e nutrientes, a aterosclerose pode se manifestar com o entupimento das artérias, causando a angina de peito, o infarto agudo do miocárdio ou até mesmo a morte súbita. Estes problemas de saúde desenvolvem-se mais frequentemente com níveis de triglicérides a partir de 150 mg/dL de sangue.
5 – Por que os níveis de triglicérides no sangue ficam aumentados?
Por duas razões básicas:
Pelas alterações genéticas do metabolismo das lipoproteínas ricas em triglicérides, dependendo, portanto, de alteração familiar herdada; e
Por outras doenças que se acompanham secundariamente de aumento dos triglicérides, como, por exemplo, o diabetes, a doença renal e o hipotireoidismo.
6 – Quais os sintomas do aumento do triglicérides?
O aumento dos triglicérides, assim como o aumento do colesterol, por si só, não causa sintomas perceptíveis a princípio, mas complicações mais tardias. Excepcionalmente, quando os triglicérides estão muito aumentados aparecem depósitos de gordura na pele, denominados xantomas eruptivos. Em geral, a alteração é descoberta pela dosagem dos triglicérides no sangue, num exame de sangue de rotina.
7 – Quem deve ter seus triglicérides dosados?
A determinação do nível de triglicérides no sangue faz parte do perfil lipídico. Este perfil também inclui a determinação do colesterol total, do HDL-colesterol e do LDL-colesterol.
Em adultos, a determinação do perfil lipídico está indicada para todas as pessoas acima dos 20 anos de idade e para os portadores de aterosclerose, com ou sem manifestações clínicas.
Para crianças e adolescentes (dos 2 aos 19 anos de idade) é indicada a determinação nas seguintes situações:
- crianças portadoras de aterosclerose ou de outros fatores de risco para aterosclerose (exemplos: tabagismo, hipertensão arterial, diabetes, obesidade);
- dislipidemia diagnosticada em parentes de primeiro grau (pais ou irmãos);
- familiares com doença aterosclerótica precoce (abaixo de 55 anos para homens e de 65 anos para mulheres).
8 – Quais os valores desejáveis de triglicérides?
Consideram-se como valores desejáveis aqueles abaixo de 150mg/dL. Acima deste valor já se considera o nível aumentado, justificando medidas terapêuticas.
Nas crianças e adolescentes os valores são mais baixos, variando em torno de 100 a 130mg/dL.
9 – Quais os cuidados para a dosagem dos triglicérides?
A pessoa deve ter seu sangue coletado pela manhã, após permanecer 12 horas em jejum. Se não for possível a dosagem em jejum, usam-se outros valores limites de normalidade, pois se sabe que após a alimentação os níveis de triglicérides são mais altos. Desta maneira, após a alimentação, os valores não devem, em indivíduos normais, ser muito mais altos (me geral, abaixo dos 400mg/dL). Se estiverem acima deste valor, provavelmente o nível médio após o jejum também estará alto. Sabe-se que os níveis de triglicérides dosados após a alimentação (lipemia pós-prandial) também se relaciona com o aparecimento da doença coronária. Assim, os indivíduos que tem lipemia pós-prandial mais alta tem maior tendência ao desenvolvimento de manifestações de doença coronária. Outras recomendações são: evitar a realização do exame em períodos de adoecimento, mesmo que com afecções leves (exemplo: gripes e resfriados), não fazer exercícios físicos no dia do exame e não ingerir bebidas alcoólicas desde a véspera do dia em que se vai coletar o sangue para o exame.
10 – O que fazer diante de um exame alterado?
Inicialmente, recomenda-se a repetição do exame, sem nenhuma modificação alimentar, para confirmação do resultado. Se aceita como intervalo normal entre exames de triglicérides até 20% de variação. Acima desta diferença, sugere-se uma terceira determinação, empregando-se a média das duas que apresentarem valores mais próximos.
11 – Uma vez confirmada a alteração, qual deve ser o passo seguinte?
Como na presença de qualquer alteração das gorduras do sangue (dislipidemias), deve-se sempre procurar afastar a possibilidade de que ela seja decorrente de uma outra doença de base. No caso do triglicérides, a mis comum é o diabetes (principalmente o de tipo 2, também conhecido antigamente como diabetes do tipo adulto , pois, em geral, seu aparecimento se dá após os 40 anos de idade). Outras doenças possíveis de causar o aumento dos triglicérides são doenças dos rins, da tireóide, das glândulas suprarrenais e do fígado. Embora haja a possibilidade de que medicamentos utilizados para o tratamento da hipertensão arterial (diuréticos e betabloqueadores) possam aumentar os níveis de triglicérides, isto não é comum com pequenas doses desses medicamentos, atualmente mais empregadas. Uma vez diagnosticada uma doença de base, muitas vezes seu controle propicia melhora dos níveis dos triglicérides. Caso não seja diagnosticada doença que possa ser responsabilizada pelo aumento dos triglicérides, o paciente deve ser questionado sobre sua alimentação, na tentativa de encontrar-se algum erro alimentar que possa justificar a alteração. Alem disso, o inquérito alimentar proporciona dados sobre as preferências alimentares do paciente, o que tornará mais fácil a prescrição das recomendações alimentares a ser seguidas.
12 – Quais os passos que devem ser seguidos para tratamento da hipertrigliceridemia?
Devem-se observar, inicialmente, aspectos da dieta do paciente:
- Quantidade de calorias da alimentação e perda de peso – a alimentação deve ser adequada às necessidades calóricas do indivíduo. Em geral, há necessidade da perda de peso, o que por si só já pode trazer a normalização dos níveis de triglicérides;
- Quantidade e tipo de gordura da alimentação – além da quantidade total de gordura ingerida pelos pacientes, que deve ser restrita a menos de 30% do valor calórico total (na prática se recomenda a diminuição de todas as gorduras dos alimentos, bem como dos óleos empregados no seu preparo), deve-se observar qual o tipo de gordura empregada, uma vez que as gorduras saturadas (encontradas principalmente em alimentos de origem animal – carnes e derivados, leite e derivados, e também em certos vegetais, como a banha de coco e azeite de dendê) tendem a produzir aumento do colesterol sanguíneo;
- Açucares e doces – outro grupo de alimentos que deve ser restrito é o dos açúcares e doces, uma vez que a sacarose estimula o fígado a fabricar os triglicérides;
- Bebidas alcoólicas – muitos indivíduos tem seus triglicérides aumentados por causa do consumo regular de bebidas alcoólicas. Não importa se elas são destiladas ou fermentadas, e não são necessárias doses muito elevadas. Dependendo da sensibilidade de cada um, certos pacientes desenvolvem hipertrigliceridemias muitos intensas, mesmo com doses baixas de álcool, se este é ingerido regularmente. Note-se que, nessas situações, a correção dos níveis de triglicérides sanguíneos só é obtida com a parada total do consumo de álcool.
13 – Qual o papel do exercício físico no tratamento da hipertrigliceridemia?
O exercício físico regular faz parte importante do tratamento dos pacientes com aumento dos triglicérides sanguíneos. Além de produzir diminuição destes, a atividade física regular pode também levar à diminuição do LDL-colesterol (particularmente quando é acompanhada de perda de peso) e, principalmente, ao aumento do HDL-colesterol. Salienta-se que a atividade física é importante coadjuvante no tratamento, mas sempre em associação com as medidas alimentares. Se os portadores de hipertrigliceridemia, quando controlados co cuidados alimentares e exercício regular, abandonam as medidas alimentares, ocorre rápida piora dos níveis sanguíneos dos triglicérides, que só melhoram novamente com a retomada dos cuidados alimentares. É importante também a correção de outros fatores de risco que possam estar presentes, com particular atenção para o fumo, uma vez que este, além de todos os malefícios inerentes ao tabaco, leva também à piora do perfil lipídico, com aumento dos triglicérides e do LDL-colesterol e diminuição do HDL-colesterol.
14 – Qual o tempo que se deve esperar para repetir os exames após a correção alimentar e os exercícios físicos?
Embora a melhora dos níveis dos triglicérides possa ocorrer rapidamente, recomenda-se que o perfil lipídico seja repetido após dois a três meses depois que cada modificação terapêutica tenha sido introduzida. Uma vez estabilizado o quadro nos valores desejáveis, os exames podem ser repetidos a cada seis meses ou até anualmente. O mais importante é que essas medidas devem ser mantidas por toda a vida do paciente.
15 – O que fazer quando o tratamento com essas medidas citadas não propicia os resultados desejados?
Uma vez que o tratamento dietético e a atividade física regular não produzam os resultados esperados ou não sejam suficientes para corrigir o perfil lipídico, deve-se introduzir medicamentos específicos para a melhora dos triglicérides. Esses medicamentos são os fibratos , o ácido nicotínico, os óleos de peixe e as vastatinas. Devem sempre ser prescritos e receber acompanhamento contínuo pelo médico. É importante salientar que, quando há necessidade da introdução de um medicamento, o paciente não fica liberado de manter o controle adequado da alimentação e da atividade física, uma vez que o emprego dos medicamentos sem a manutenção da alimentação adequada faz com que os níveis de triglicérides dificilmente sejam adequadamente controlados.
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